segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Publicidade negativa


Sob a ótica das arquibancadas, especialmente quando se trata de torcidas organizadas, barras-bravas, firmas inglesas e grupos ultras ao redor do mundo, é nítido e coerente afirmar que o futebol não só é um meio de vida, como é uma das maiores invenções da humanidade. O jogo historicamente supera a adrenalina de esportes famosos e bem consolidados, como o vôlei, o basquete e sua própria versão americana, a NFL. Talvez a diferença maior seja esta. Enquanto os demais são apenas "esportes", o Futebol transcende. Leva o bairrismo, o apego ao clube e suas raízes até as últimas consequências. Lava a alma. Te faz se sentir o pior dos moicanos ou parte do mais bravo exército de torcedores. Sem o Futebol, nossas vidas definitivamente perderiam um pouco do brilho.

Foi o que aconteceu sábado, frente ao Santa Cruz.

Mas foi o que não poderia ter acontecido na semana passada.

Quando se analisa o futebol nacional ao nível macro, pode-se observar duas situações muito claras: a primeira, de que várias equipes desportivas estão buscando influências de administração européias. Esqueçamos momentaneamente suas crises, até porque, a forma como algumas destas equipes do eixo são administradas nos faz justamente esquecer que elas possuem salários atrasados ou dívidas contraídas ou ambos. Trata-se do valor de marca. Condução nos negócios. Blindagem interna. A segunda das situações claras é a crise moral do pós-Copa, onde o nosso jogo bretão parece encontrar-se em crise "espiritual" no país. Seleção sem rumos, jogos sem graça por uma Série A sem emoção, e uma Série B repleta de dúvidas, onde não se sabe quem pode subir ou quem pode descer e que tudo possa acontecer.

Trocando graúdos por miúdos, situações como a do ex-Claudinei Oliveira e ex-Giancarlo não podem acontecer. Não da forma como aconteceram. Uma renúncia via Twitter, uma imprensa ansiosa pelos "vazamentos de más notícias", e um bate-e-volta com o Coritiba - que mantém 3 meses de salários em atraso em plena Série A, simbolizam a antítese da administração. Em tempos onde discutem-se, como legado da Copa, a estrutura das arenas, planos de sócio-torcedor e a elaboração de um campeonato mais sólido, competitivo, com melhor nível técnico; a má publicidade e a forma burra como negociações são construídas representam o pior dos retrocessos. E acreditem, meus amigos, poucos na imprensa esportiva questionam isso. Um técnico que renuncia da noite pro dia pela internet, em troca do rival, não poderia mais retornar à Vila Capanema. Pois este é justamente o tipo de negatividade que o Clube pode atrair cada vez mais à si mesmo, caso permita a brecha. Assim como o Ricardinho, que saiu da forma como saiu - esbravejando contra a instituição Paraná Clube - e que hoje retorna ao cargo, após não ter alavancado resultados afora.

Tomo como exemplo o Calcio na Itália, quando Leonardo trocou anos de sua carreira no AC Milan por um cargo de técnico na Internazionale, e no derby seguinte foi surrado por um mosaico dos ultras da Curva Sud Milano que o mostravam enquanto Judas na Santa Ceia. A torcida fez valer sua opinião, rebateu a "vergonha" e Leonardo não retornou (nem retornará) mais ao clube.

Entendam, senhores, que se o material humano não presta ou acredita cegamente no valor monetário - dinheiro é bom, mas existem coisas maiores - o Clube precisa ser isento. Precisa ser frio. Guiado com sobriedade. Não se pode permitir que um jogador vista-se às pressas no saguão de um aeroporto, e nem que vazamentos de notícias ruins escancarem, diariamente, a cada vez mais frágil situação do Clube.

O passional é posse genética dos torcedores. É o passional das arquibancadas, do alento, do fervo e da crença que ajudam a construir situações propícias. Tal qual a virada incrível frente ao Santa Cruz, no último sábado, com direito até a jogador escalando alambrado para abraçar o torcedor. Deixemos a frieza para os negócios. Pois a boa publicidade já é feita pelos torcedores.

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